17 de janeiro de 2012

Desconhecidos S/A




Seqüência 1 – interna – entardecer – Padaria
O primeiro homem entra apressado na padaria. Está descabelado, desarrumado, suando e com o olhar baixo. Ele entra sem olhar à volta. Caminha apressado e senta-se à mesa no fundo. Ele é um homem jovem, forte, parece um operário: macacão, camisa branca, roupas sujas, de quem estava no batente. Há um corte.

Seqüência 2 – interna – entardecer – Padaria
O segundo homem entra. Está calmo, porém, demonstra desapontamento; está arqueado, como quem carrega um grande peso. Mas, ao contrário do anterior, não está descabelado, nem inquieto; está simplesmente desanimado. Também entra com o olhar baixo. Senta-se à mesma mesa do primeiro, cumprimenta o que já está sentado, sem lhe olhar nos olhos e sem palavras. É um homem já velho, de aparência cansada, também pobre, mas vestido como um homem de escritório; terno surrado, calças gastas, sapato de solas gastas. Há um corte.

Seqüência 3 – interna – entardecer – Padaria
O terceiro homem entra. Ele parece flutuar, está despreocupado, sorridente. Está bem vestido, um pouco suado, um pouco amarrotado, mas calmo. Faz movimentos leves, calmos e quase bailantes. Ainda assim, também entra sem olhar à sua volta, como se estivesse alienado de tudo, indiferente, como os outros anteriores a ele. Senta-se graciosamente à mesa com os outros dois, cumprimenta-os sem olhar e sem falar. Um homem jovem, pobre e bem apessoado. Usa roupas informais, baratas, mas novas. Está arrumado, por assim dizer, mesmo sem luxo. Há um corte.
Seqüência 4 – interna – entardecer – Padaria
Os três demonstram ter intimidade, uns com os outros – Como velhos amigos. Seus movimentos (apesar das diferenças de humor) são, de alguma forma, feitos como se estivessem à vontade entre si, mesmo que não estejam à vontade com suas próprias vidas – no caso dos dois primeiros. Um intervalo de pouquíssimos segundos separa a chegada de cada um. Quando estão os três sentados à mesa, conversam.

Primeiro Homem: “Hoje foi difícil pra mim.”

Segundo Homem: “Hoje eu fui despedido.”

Terceiro Homem: “Hoje eu comi aquela secretária gostosa do departamento pessoal.”

Há um corte.

Seqüência 5 – interna – entardecer – Padaria
Eles conversam normalmente; cada um expressando muito efusivamente seu estado de espírito. Não se olham, estão olhando, com olhares vazios, para o entorno. Nenhum deles “atropela” os outros para falar, falam um de cada vez. Mas na verdade, nem ouvem o que os outros estão dizendo; concentram-se em suas próprias frases; falam de seus próprios assuntos. Estão, na verdade, monologando em conjunto.

Primeiro Homem: “Meu cabo de segurança arrebentou. Putz! Deus me livre! Fiquei pendurado por quase trinta minutos segurando num parapeito, até me tirarem... Quase morri! Meus braços estão latejando até agora! Tou até tremendo! Vocês sabem como é o prédio da firma – e como o nosso patrão trata bem os limpadores de janela...”

Segundo Homem: “O chefe do meu departamento estava de ovo virado. Acho que a piranha da mulher dele fica dando pra um monte de caras e dorme de calça jeans quando está com ele, saca? O cretino chegou, olhou pra minha cara, perguntou meu nome e disse que eu estava demitido! Vê se pode? Uma injustiça. E agora? Como vou poder pagar as contas? A patroa vai ficar puta, lá em casa... Deus, eu estou cansado de ficar me ferrando de graça...”

Terceiro Homem:Deus do céu! Que rabo lindo que aquela mulher tem! Eu achava que ela nunca ia dar papo pra um faxineiro, feito eu. Ela trepa com o presidente da firma! O patrão! E é uma gostosa! Sabem, aquela do departamento pessoal...? Que rabo! Que rabo!”

Há um corte.

Seqüência 6 – interna – entardecer – Padaria
O garçom se aproxima no meio da “conversa”. Espera que eles terminem de falar, parado, imóvel, bem formal e oferece o cardápio, sem dizer nada. Eles negam o cardápio com as mãos, levantando-as meio desalentadas e falam:

Primeiro Homem:Eu vou querer um café.”

Segundo Homem: “Ahnn... Eu não. Vou querer só um café.”

Garçom (dizendo ao Terceiro): “O senhor...?”

Terceiro Homem: “Não, não. Traz só um café pra mim, por favor.”

O garçom age com naturalidade em relação à conversa; na verdade, ele também está alheio, agindo mecanicamente, alienado. Durante o “papo”, nenhum dos quatro personagens olha nos olhos de qualquer dos outros; um olha pra baixo, para o caderno de notas; está imóvel como uma estátua, exceto pelo movimento da caneta sobre o papel (o garçom); um olha para seus braços, que não param de tremer, meio ofegante, se mexe muito abre e fecha os olhos, passa as mãos pelo rosto incessantemente (o primeiro); outro olha para a rua lá fora, está com um olhar perdido, sua melancolia o torna imóvel e sombrio como um morto, é a imagem do desânimo (o segundo) e o último olha para o espelho na parede da padaria, ajeitando a camisa, o cabelo, as sobrancelhas e o sorriso... Mas calmamente, está se admirando. Nenhum deles presta atenção a nada senão a si mesmos. O garçom sai para buscar os pedidos. Há um corte.

Seqüência 7 – interna – entardecer – Padaria
Os três homens continuam conversando, da mesma forma que antes, em sua alienação. Com seus trejeitos. Com suas próprias ações e falas, fechados e solitários. Não se olham, como descrito anteriormente.

Primeiro Homem: “Cara, foi foda escalar os dois últimos andares. Teve uma hora que o parapeito rachou e eu achei que ia morrer... Foi muito horrível. Nunca senti tanto medo! Quase me borrei todo!”

Segundo Homem: “Bem, eu estava um pouquinho atrasado... Mas, porra, cinco minutos! Que foda! O que são vinte minutos? Só comigo, mesmo. E eu sempre chego na hora! Logo hoje o cara tinha que encrencar! Eu sou um fracasso. Horrível! É muito azar pra um cara só. Deus me livre...”

Terceiro Homem: “Ah, pena que a gente só tem uma hora de almoço, não é? Eu poderia ficar comendo aquela mulher por uma semana seguida, sem parar!! Que rabo maravilhoso! Que foda maravilhosa! Acho que vou tentar carregar a gata pro motel no fim de semana... Que o meu apê ta horrível. Vai ser muito bom se eu conseguir... Ah... Que rabo! Que rabo...”

Há um corte.

Seqüência 8 – interna – entardecer – Padaria
O garçom chega, serve três xícaras de café preto, faz uma leve reverência com a cabeça e sai. Sempre muito formal e sem olhar senão para a bandeja e a mesa. Cada um leva a sua xícara à boca, automaticamente, sem nem perceber, continuam como autistas. Nem mesmo parecem perceber que estão bebendo alguma coisa. Nunca olham uns aos outros; olham sempre para o que fazem.

Primeiro Homem: “Sabem, acho que eu vou deixar este emprego. É muito perigoso!!”

Segundo Homem: “É, você disse bem. Eu Já queria deixar este emprego mesmo... Mas é perigoso ficar desempregado na minha idade...”

Terceiro Homem: “Vocês estão certíssimos, têm razão. Eu não vou mais comer aquela gostosa no emprego... Já pensou como é perigoso? Se o presidente, que trepa com ela, pegar a gente na sala do almoxarifado? Nem quero pensar...”

Finalmente, eles se olham. Os três sorriem placidamente. Estão com uma expressão de alívio. Viram o café goela abaixo, de uma vez só, quase ao mesmo tempo, apertam as mãos uns dos outros e sorriem novamente. Ainda assim, seus movimentos são mecânicos, meio formais demais. Continuam indiferentes ao resto do ambiente.

Primeiro Homem: “Sabem o que eu gosto em vocês? Vocês sempre me ouvem, me apóiam e me aconselham... Pelo menos este trabalho valeu pra conhecer vocês! Verdadeiros amigos!”

Segundo Homem: “Eu estou muito agradecido por vocês ficarem me ouvindo lamentar... Amigos assim, não se vê mais. E pensar que antes de vocês entrarem pra esse trabalho, eu era um solitário, triste... Nos conhecemos lá. Vocês lembram? Ainda bem que o elevador quebrou...”

Terceiro Homem: “Rapaziada, se não fosse por vocês eu podia me ferrar! Ainda bem que eu tenho vocês pra me abrir os olhos! Estou no trabalho a pouco tempo, mas já sei que valeu à pena; Eu conheci vocês, meus melhores amigos, e ainda comi aquela gostosa! Vocês não devem nem lembrar de quando ficamos presos no elevador, um ano atrás...”

Há um corte.


Seqüência 9 – interna – noite – Padaria
Eles se levantam, cada um pega suas coisas. Vão até o caixa, cada um com sua notinha na mão, procurando moedas em seus bolsos. Cada um paga sua conta e saem do recinto. Há um corte.

Seqüência 10 – externa – noite – Rua em frente à Padaria.
Os três homens olham-se de novo, enquanto estão parados em frente à padaria, mas agora desatentos, mecanicamente, e despedem-se com apertos de mão. Há um corte. O primeiro vai até o ponto de ônibus (ao lado) e toma condução num desses coletivos, que logo passa. Há um corte. O segundo caminha até um carro velho e surrado, entra, dá a partida e vai embora. Há um corte. O terceiro, pega uma moto simples, no canto da rua, monta na moto, põe o capacete e segue seu caminho. Os três voltam à sua indiferença catatônica, ao olhar perdido, à expressão vívida de seus estados de espírito iniciais, em expressões faciais, em gestos, em suspiros. Há um corte.

Seqüência 11 – externa – noite – rua em frente ao prédio
O terceiro homem chega num prédio velho, numa área proletária da cidade. Pára sua moto ao lado, põe a tranca, tira o capacete e entra no prédio. Há um corte.

Seqüência 12 – interna – noite – prédio do personagem
O Terceiro homem sobe a escada e entra no apartamento 201. Ao abrir a porta, ele diz pra si mesmo:
Terceiro Homem: “Que merda. Moro nesse pardieiro há sete anos! Não dá pra trazer uma mulher daquelas aqui... Preciso mudar...”

Entra e fecha a porta, balançando a cabeça. Há um corte.

Seqüência 13 – externa – noite – rua em frente ao prédio
O Segundo homem chega com seu carro em frente ao mesmo prédio do terceiro. Estaciona ao lado da moto. Sai do carro, caminha até o prédio e entra. Há um corte.

Seqüência 14 – interna – noite – prédio do personagem
O Segundo homem sobe as escadas e fica em frente ao apartamento 202. Diz a si mesmo:

Segundo Homem: “Como eu vou dizer pra ela? Ela já me enche o saco pra mudar daqui há uns cinco anos, mas meu salário não dava. E agora? Nem salário eu tenho mais...”

Ele abre a porta com um suspiro, baixa a cabeça e entra. Há um corte.

Seqüência 15 – externa – noite – rua em frente ao prédio
O Primeiro homem salta do ônibus, uma quadra à frente do mesmo prédio. Anda quase se arrastando até o edifício e entra. Há um corte.

Seqüência 16 – interna – noite – prédio do personagem
O primeiro homem sobe as escadas. Ao entrar no corredor do segundo andar, fala sozinho:

Primeiro Homem: “E pensar que quando aluguei este kitinete, quatro anos atrás, eu queria um no décimo andar... Eu não quero saber de altura nunca mais...”

Caminha até o 203, abre a porta sorrindo de leve, entra e fecha a porta atrás de si. Há um corte.


§§§
   
 *um roteiro de João Leonardo de Almeida

9 de janeiro de 2012

MARTELADA JAM SESSION!!! TRAGA SEU INSTRUMENTO!


Inauguramos a MARTELADA JAM SESSION em abril de 2011. De lá pra cá ela foi garantia de bons encontros musicais, que representam um bom programa para o terceiro sábado de cada mês. A cada edição o evento cresceu musicalmente e ganhou maior repercussão. Fechamos o ano de 2011 com a certeza de que o processo de desenvolvimento deste evento estava caminhando. Assim, neste primeiro mês de 2012, estamos de volta com a corda toda, programando uma série de novidades. A entrada será cobrada já no portão da varanda, de modo que o evento englobará todo o espaço e a entrada dará direito aos shows, à exposição de artes plásticas que será inaugurada no evento, ao cyber café “V de Vegans”, etc. Programamos para a primeira edição uma venda especial de pizzas (em homenagem à política municipal). Pra acompanhar a pizza, haverá venda de cervejas, além das receitas vegan do café.

Na parte musical também teremos novidades: Às 19:00h, iniciamos a Jam (como show de abertura) com a banda residente MARTELADA JAM (agora com nova formação: bateria, baixo, duas guitarras de 7 cordas e órgão) recebendo seus próprios convidados para improvisar, na sala de exposição ao lado do teatro, onde há o piano do ECSPS. Às 20:00h, no teatro, teremos o show de lançamento do CD "TEMPOS" do cantor/compositor e violonista Humberto Assunção (voz e violão folk), acompanhado por Ruben Amoêdo (violão de nylon) e Ruan (Cajon). Quanto ao repertório deste show, serão executadas as músicas do CD e também musicas de Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Djavan, Danilo Caymmi, Flavio Venturini,  Claudio Zolli... Às 21:30, faremos a parte final da Jam, misturando a banda residente, os músicos da platéia e Humberto Assunção com sua banda.

E o melhor: Especialmente este mês, a entrada vai ser de R$ 5,00. Quase de graça. Essa é uma produção independente da Insaciável Martelo Produções e do Coletivo Serra Elétrica, em parceria com o ECSPS. Músicos que aparecerem por lá com seu instrumento na mão não pagam entrada.

A oitava edição do evento, primeira edição de 2012 da MARTELADA JAM SESSION, acontecerá no dia 21 de janeiro, no Espaço Cultural São Pedro da Serra (ECSPS), que fica na Rua Rodrigues Alves, 237, São Pedro da Serra, Nova Friburgo – RJ. Informações: (22) 2542 3365 ou no site: http://educari-ong.org

* Texto publicado originalmente no blog do Coletivo Serra Elétrica (coletivoserraeletrica.blogspot.com)